Vejo o tempo passar, sinto na pele, nos ossos e nas lágrimas
Sinto o mudar de lugar, vejo nas fotos, nas caras, em quem não reconheço
O tempo mudando pra quem bem conheço e em mim
E quem eu não via há de 15 anos? Tá na fotografia, sorrindo, chorando
E eu começo a nublar. Algo em mim entristesse e se alegra, desperta que a hora é já
A hora é ontem , há 101 anos, num sorriso da avó
Talvez eu não enxergue por que estou chorando e pelas minhas rugas, pequenas e poucas
Escorre a mais nobre emoção de sentir
Vejo o olhar dela, querida, sorrindo de um jeito inexplicável
Talvez dizendo, a vida é uma festa invocada e engraçada, feita por Graça e graças de todos presentes .
E com certeza na sua memória cansada, devo estar num cantinho lembrado e esquecido
Num coração aquecido, se nota no olhar.
Pensamento longe e perto, ela vive em cada um. Em cada samba que a foto me mostra
E eu nem sei o que dizer, por que palavras são poucas, pequenas diante da cena
Vovó se benzando diante de um bolo, na vela 101 anos destaca
a velha e boa criadora de apelidos, com seus palavrões que me soam sagrados e muito engraçados; filho da popota, xibiu, zé pretinho(bolo queimado), sobe e desce(comida), e outros que não lembro. nunca ouvi dar uma porra, mas soube que antes de eu nascer numa festa de são joão, procurando uma rima para pamonha, de supetão encontrou maconha, acredito que sem saber o que significava. O jogo era rimar.
E vejo tantas rimas... Minha mãe , minha irmã, minhas tias, tios e primos. Meu sobrinhos, meu padrinho, minha cunhada, primas e amigos. Quanta gente assim feliz, feliz por estarmos vivos, feliz por estar viva a rima mais rica em nós. O jogo é rimar eternamente em nós, Ela , mais uma vez a rainha na foto, eterna em nosso coração.
Viva a alegria desse momento que acredito ter mudado tudo de lugar. Aproximado, repensado, firmado, rimado ao som do coração forte de Nicéia.